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Diabo e fluoxetina

Diabo e fluoxetina

Sinopse

De um lado, sujeitos convertidos às igrejas pentecostais, que se engajam na carreira de "pregadores" e vivem do expediente de "dar seu testemunho", narrando seu passado mundano, como experiências com a criminalidade violenta, mendicância, prostituição e homossexualidade. De outro, sujeitos remanescentes das regiões rurais brasileiras, que, ao buscarem atendimento médico, queixando-se de dores difusas, retornaram para casa com o diagnóstico de depressão. Como o pentecostalismo e a psiquiatria amarram essas trajetórias de vida aparentemente tão díspares, a do pregador-itinerante e a do caipira deprimido? No primeiro, o sofrimento é encenado como espetáculo. No segundo, é internalizado como vergonha. Em um, torna-se mercadoria simbólica. Em outro, objeto das intervenções bioquímicas nos neurotransmissores. Do mesmo modo que o mercado atinge de forma inusitada a biografia dos pregadores-itinerantes – o sofrimento torna-se venal –, a psiquiatria chega na biografia dos caipiras agora deprimidos – o sofrimento torna-se doença. Dessa primeira constatação, o livro suscita novas questões: o mercado de pregações e a psiquiatria biológica seriam formas contemporâneas de gestão do diferente, do estranho, do anormal? Na nova forma de governo dos homens, revelada por meio da experiência aparentemente insignificante dos pregadores-itinerantes e dos caipiras deprimidos, os indivíduos não devem mais ser reformados, expurgando-lhes sua odiosa diferença, mas geridos, conduzidos na estranha e tautológica arte de se tornar apenas aquilo que são. Seja pela manipulação das regras dos jogo do mercado religioso, seja pela manipulação das regras do jogo neuroquímico de cérebros irremediavelmente deficitários, a arte de governar os indivíduos da sociedade contemporânea não pretende mais "fazer a cabeça" dos homens, mas conduzi-los insidiosamente, quase imperceptivelmente, em uma tecnologia que age no jogo, e não no jogador.