Nas sombras da contristação, verdadeiramente afortunado é aquele que consegue ver a luz diante de si. A tormenta da dor causada por um câncer pode ofuscar a fé na Divina Providência. O pavor não é à toa, segundo a Organização Mundial da Saúde, a OMS, a doença é a segunda principal causa de morte no mundo todo, cerca de um em cada seis habitantes morre devido à doença. Os números são alarmantes, todo ano morre o equivalente à população de um pequeno país, do tamanho de Portugal. Oriundo do latim “cancer”, que em português significa “caranguejo”, crustáceo que também simboliza o signo de câncer, o nome da doença é a imagem dos seus tentáculos, das suas ramificações, da força dilacerante impingindo dor e sofrimento. É uma verdade infeliz dizer que muitos de nós experimentaremos o câncer de alguma forma, seja em primeira mão como paciente ou no apoio a um ente querido através de seu diagnóstico e tratamento. Eu pensei que jamais teria. Mas tive. É verdade também que a doença cruel pode inspirar uma renovada empolgação pelo futuro, gratidão pela vida, desejo de alcançar novos objetivos e maior proximidade com as pessoas amadas. As mudanças são profundas, o mundo muda muito diante dos olhos de quem luta contra a doença. Cada dia vencido é uma grande vitória, ornada de luz. Não foi fácil, ninguém disse que seria. O que era difícil ficou ainda mais difícil com a chegada do coronavírus, da quarentena e da pandemia, que por sua vez já seria difícil, mesmo sem o negacionismo, o terraplanismo, o geocentrismo, o autoritarismo, o radicalismo, o extremismo, o cinismo e vários outros “ismos” do retrocesso que jogou a favor da morte. Fazer o que? Revisitando o meu passado, minha vontade de viver me fez superar todos os obstáculos. Os dias tinham cara de travessia. Mais do que endireitar a mente, eu tive que aprender a usá-la a meu favor. Sempre acreditando no final feliz, não há no mundo remédio melhor do que a esperança. “A esperança é como o sol, que, quando caminhamos em sua direção, faz as sombras de nossos fardos ficarem para trás” Samuel Smiles, autor escocês do século XIX. Apesar de tudo que eu vivi, eu venci e sobrevivi para contar a história.